CASSETE N° 10


ENCONTRO COMIGO MESMO



Lado A

O Encontro!

Celebro e canto a ti, Irmão!

E tudo quanto é meu também é teu, porque não há um átomo do meu corpo que não te pertença.

Minha língua, cada átomo de meu sangue, feitos com esta terra, com esta terra, com este ar.

Fica Comigo!, e serás dono dos bens da terra e ainda de todos os bens do sol.

Já não receberás de segunda ou terceira mão as coisas, nem olharás pelos olhos dos mortos, nem te alimentarás do espectro dos livros, também não olharás pelos meus olhos, nem aceitarás o que eu te digo

Se não que ouvirás o que te vem de dentro.


Irmão, Eu não falo nem do princípio nem do fim, porque nunca houve tanto princípio quanto agora, nem mais juventude e velhice quanto agora, nem haverá mais perfeição que agora, nem mais inferno e céu quanto agora.

Impulso, o impulso! Sempre o impulso gerador do céu e da terra, do mundo!

Te falo e rapidamente me estão rodeando o Conhecimento e a Paz que transcendem todas as discussões da terra.

Sei que a mão de Deus me foi prometida, sei que o Espírito de Deus é uno com o meu, que todos os homens são meus irmãos e que a sustentação da Criação é o Amor.

Sou de todas as raças, castas e religiões.

Estes são em verdade os pensamentos de todos os homens em todas as épocas e países, não são originais meus, se não são tão teus como meus.

Se não são tão teus como meus, então são nada ou quase nada.

Se não são o enigma e a solução do enigma, então são nada.

Se não são tão próximos quanto distantes, também são nada.

Este é o ar comum que banha nosso planeta.


O que é afinal de contas um Homem?

O que sou eu?

Tu, o que és?

Tudo o que assinalo como meu, tu comparas com o teu, não é assim?

Para nós convergem sem fim as incessantes coisas do universo, todas me escrevem...

E eu devo decifrá-las.

Sei que sou imortal.

Sei que minha órbita não pode ser medida.

Sei que não me perderei com a espiral,

Existo como sou, e isto basta!

Se ninguém no mundo sabe, estou satisfeito!

Se todos e cada um sabem, também estou.

Um mundo sabe e esse é o maior de todos para mim!

E esse mundo sou eu!

Se entro em possessão do que é meu hoje...ou dentro de mil anos, dá no mesmo agora, e me dá o mesmo esperar esses mil anos.


Os prazeres do céu e as tormentas do inferno estão comigo agora, estão contigo também.

Direi a ti o que faço.

Os primeiros, injeto e os multiplico em meu ser, e os último, traduzo em um novo idioma, os transmuto!

Sou Universal como tu, sou também de uma fase e de muitas fazes, participo de fluxos e de refluxos, exalto reconciliações.

Pensas por acaso que as leis do céu podem ser revisadas e corrigidas? Ilusão.

Afirmo que os dois pratos da balança estão equilibrados e devem equilibrar-se em teu mundo.

Escuta-me!

Uma doutrina suave não é menos serviçal para mim que uma rígida, nada é melhor que o Aqui e Agora!

O que ocorreu tem no passado, o que agora ocorre não é tão maravilhoso. Agora e amanhã para mim são o mesmo. Aceito o tempo de maneira absoluta!

Aceito a realidade e não a ponha em dúvida.



Ver, ouvir, tocar, falar, sentir, são milagres, milagres!

Divino sou por dentro e por fora, e santifico tudo o que toco e tudo o que me toca. Esta cabeça é mais que as igrejas, bíblias e todos os credos.

É a mente una. Meu conhecimento é minha vida, corresponde a verdade de todas as coisas.

Felicidade! Te levo em meu mérito final, não quero despojar-me do que realmente sou.

Abarco mundos, mas nunca trato de abarcar-me, reuno o mais delicado e o melhor que há em ti só em olhar-te, levo no rosto a plenitude e a pureza de todas as coisas.

Enfrento-me com o enigma dos enigmas, o enigma do Ser. Ser em qualquer forma, mas o que é isso... Ser?



O que é isso: SER?

Creio que uma folha não é menos que o caminho percorrido pelo sol.

Que a formiga é perfeita, que a rã é uma obra mestra, que a menor articulação de minha mão pode eliminar a todas as máquinas.

E que um rato é um milagre capaz de confundir um milhão de incrédulos.

Sinto que em meu ser se incorporam o carvão e o musgo, as frutas e os grãos, que estou feito de quadrúpedes e de pássaros, e que posso recuperar o que deixei atrás, quando queira.

Percorri isso já faz muito tempo!



Esta manhã, percorri as colinas e as praias,

com Deus a meu lado,

atravessando o espaço, o céu e as estrelas, os sete satélites, e um largo anel de 80.000 Km de diâmetro.

Rodando com os meteoros,

jogando esferas de fogos com eles,

levando a luz crescente que leva no ventre a própria mãe.

Percorro os caminhos do dia e da noite de mim e de

meu Ser.



Minha alma insaciável... fluida, empreende seu vôo.

Não há sombra que a alcance .

Tomo o material e o não material.

Não há lei guardiã que possa impedir-me.

Sou dos que giram sem fim no Círculo dos Círculos.

Tomo lugar entre vocês como tomo entre os demais.

O passado nos impulsiona a todos, a vocês, a ti, a mim da mesma maneira.

E o que ainda não foi provado, nos impulsiona também da mesma maneira.

Não sei o que não foi provado e virá depois, mas sei que no seu devido tempo será justo e não poderá falhar.


Sou um ápice das coisas cumpridas e contenho as coisas que serão.

Em cada degrau há séculos,

Percorri todos os degraus e continuo ascendendo.

Vejo no fundo o nada primordial e sei que estive ali.

Eu esperava sempre invisível, dormindo nas brumas letárgicas e não me apressei.

Mil anos no fétido carbono.

Muito tempo a sombra me cobriu, muito tempo!

Imensa foi a preparação de meu Ser,

carinhosos os abraços que me sustentaram,

os ciclos transportaram meu berço para que eu passasse as estrelas,

cumprindo com minhas órbitas,

me enviaram seu influxo para cuidar, o que ao fim me receberia.

Antes de que nascesse de minha mãe, as gerações me guiaram.

Meu embrião nunca dormiu, ninguém pode oprimi-lo.

A nebulosa se condensou por Ele em uma orbe,

os lentos estratos se acumularam para que repousasse neles,

vastas vegetações o alimentaram,

dinossauros o transportaram com suas bocas e o depositaram com cuidado.

Todas as forças trabalharam sem cessar, para modelar-me.

E agora aqui, neste lugar, com minha alma e meu corpo...

e Contigo.


Abro de noite as janelas e olho as estrelas dispersas.

Se estendem para fora, formando com suas companheiras um grupo de círculos cada vez mais amplos.

Nada as detém, nada as deterá jamais.

E se tu, eu e os mundos e tudo o que existe, fossemos reduzidos de novo a uma pálida nebulosa,

Isso não importaria.

Seguramente alcançaríamos a etapa em que estamos agora e mais longe ainda.

Nem quatrilhões de eras podem por em perigo este processo. Todos são partes.


Tudo não é outra coisa que uma parte.

Por mais distante que olhe, sempre haverá mais além...

...o espaço sem limites.

Minha cadeira foi reservada previamente, com certeza!

Deus estava ao meu lado, esperando-me!



Tocou-me a sorte, sei. O melhor do tempo e do espaço.

Nunca foi medido e nunca será medido jamais.

A viagem que empreendo é eterna.

Ouça bem, Irmão, eterna.

Tu também deve empreendê-la.

Nem eu, nem nenhum outro pode andar por ti esse caminho. És tu quem deve andar.

Não fica longe, está a teu alcance.

Quem sabe estava nele deste que nasceste, e não sabias. Averigua.

Quem sabe está em todas as partes.

Esta manhã subi a colina e disse a minha alma: Quando abarcarei esses mundos, ao conhecimento e ao gozo que contém?

Estarei por caso ao fim satisfeito?

Minha alma disse: “Não, não”.

Uma vez alcançados seguiremos o caminho.

Tu também me interrogas, e eu te escuto, mas não posso responder, tu mesmo deves encontrar a resposta.

Demasiado tempo perdestes em sonhos.

Desperta, Irmão!

Agora te tiro todas as vendas dos olhos, deves acostumar-te ao brilho da luz e estar consciente do que és em cada momento de tua vida.

Agora quero que sejas um nadador, que te lances no mar, que reapareças, que me faças um sinal, que grites, e que agites a água com teu cabelo.

Quem quer que sejas, começo desde agora a seguir-te.

Minhas palavras golpearão teus ouvidos até que as entendas. Tanto como eu, és tu que agora fala.

Eu sou a língua que está atada em tua boca e se move na minha para dizer-te isto.

Escuto e vejo Deus em cada coisa,

Mas não o compreendo.

Como pode existir algo mais prodigioso que o eu mesmo?

Por que desejaria ver Deus?

Melhor que neste dia.

Vejo em Deus em cada vinte e quatro horas do dia,

em cada um dos minutos. No rosto dos homens e das mulheres, vejo Deus, em todas as partes O vejo!

Em meu próprio rosto no espelho, encontro cartas de Deus atiradas na rua, e sua assinatura em cada uma e as deixo onde estão.

Porque sei que onde quer que vá outros chegarão pontualmente.



E quanto a ti morte... é inútil que trate de assustar-me!

E quanto a ti cadáver, penso que é um bom adubo e isso não me desagrada.

Aspiro a fragrância das rosas brancas que de ti brotam.

Quanto a ti vida, penso que és a herança de muitas mortes. Te ouço murmurar lá de cima, lhes ouço murmurar lá de cima, estrelas do céu, sois ou ervas das tumbas, perpétuas transferências e mutações, se vocês não dizem nada, o que posso dizer eu?



Há algo em mim, não sei o que é, mas sei que está em mim.

Não o conheço, não tem nome, é uma palavra não dita.

Não está em nenhum dicionário, expressão ou símbolo.

Gira sobre algo que a terra não sustenta. A criação é seu amigo que o desperta todos os dias com seu abraço, não é o caos, nem a morte.

Será a forma?

A união?

A Ordem?

A vida eterna?

A felicidade?

O passado e o presente se apagam, cumulou-se, esgotou-se.

Agora me disponho a cumular minha parte no futuro.

Tu, vida, que estás aí em cima ou dentro e mim, o que tens que confirmar-me.

Me contradigo. Muito bem, me contradigo.

Contenho multidões, legiões.



Irmão, amigo, se não me encontras a princípio, não te desencorajes.

Se não estou em nenhum lugar, me encontras em outro.

Em alguma parte espero por ti.



Até logo!

Este é meu epitáfio.

Ao jardim, ao mundo ascendendo de novo, contemplo com curiosidade minha ressurreição, depois de um longo sono.

Os ciclos que giram em vastas órbitas, me trouxeram de novo a este planeta, o vibrante fogo eterno que sempre os anima. Assombroso!!!

Existindo, penetro e continuo penetrando em todas as coisas, satisfeito com o presente, com o passado e com o futuro.

Dentro e mim, ou quiçá detrás de mim, Eva me segue, ou me precede e eu a sigo.

E dentro de meu ser eterno, minha consciência a que me permitiu conhecer, saber e dizer-te o que até aqui disse.

Adeus!!!