CASSETE N° 02


PENSAMENTO NUCLEAR



Pensamentos...

O que nos faz fracassar, o que nos causa obstáculos... são os desgostos, as atribulações que travam nossa marcha.

A sociedade, as pessoas hostis, os contratempos, os acontecimentos contrários, a vida. Tudo isto são estorvos que vêm do exterior... fora de nosso controle... fora de nossa responsabilidade, sofremos isso injustamente, segundo os outros.

Existem homens de pouca fé! Niilistas preguiçosos, que preferem acusar o destino, o mundo exterior, a todo universo, menos a si mesmos. Falam com autoridade, dizem com audácia: empreenderei isto, vencerei aquilo, construirei o outro, transformarei o demais.

Olhem bem!!! Todas as forças serão projetos energicamente expostos com poderosas palavras. O auditório aprova, elogia, discute, nega, se opõem, combate. As horas, as semanas, os meses, os anos passam inexoravelmente. O orador inflamado se esgotou em duelos verbais. Seus planos geniais, tão precisos, completos, prontos, tão largamente edificados, retificados, reajustados, aperfeiçoados, foram transformados para adaptar-se às novas condições, novos meios, novos tempos.

Acontecimentos imprevistos têm revirado as concepções que foi necessário revisar. Oportunidades têm surgido, mas o homem as tem julgado demasiado arriscadas. Tem retrocedido atemorizado, tem discutido, tem solicitado conselho dos faladores, tem escutado opiniões as mais diversas e seu ímpeto se dispersou, se diluiu, divergiu. A dúvida e o ceticismo, o tem insidiosamente intoxicado. A razão matou a intuição.

Acreditou-se mais forte que a lei anterior, que o aconselhava tão providencialmente durante suas longas e solitárias meditações de então.

Quis ter contato com a multidão e se afogou nela. Um náufrago entre os náufragos! Não! Este homem é de outra categoria, caiu no abismo e jaz no fundo. Contempla e compreende o sublime das alturas, onde havia chegado. Não pode mais arrastar-se entre o miasma do abismo. Seus pulmões provaram o ar do espaço e querem uma alimentação mais pura. Não! Vai levantar-se e fugir desse sombrio vale freqüentado por seres impuros. Vai voltar a empreender a penosa, árida e espinhosa ascensão.

Lá embaixo, seu corpo pode gozar de todos os prazeres, saciar-se, satisfazer todos seu desejos de voluptuosidade, de prazeres, de concupiscência; amigos, mulheres, parentes, lar confortável, comodidades sociais. Está fortemente tentado a ficar, a viver como todos os seus semelhantes. Mas seus olhos estão fascinados pelo céu, cuja mancha azul aparece muito reduzida desde o fundo do abismo. Demasiado reduzida! E pensa que a medida que escalava as pendências do passado, a paisagem celeste se misturava continuamente.

Já está!!! Voltou a partir!!!

O caminho pode ser mais penoso, mais árduo que a primeira vez. O entusiasmo e a alegria não irradiam tão ardentemente de eu rosto. Está sério, tranqüilo, ponderado, sossegado, sóbrio de manifestações exteriores, menos impulsivo. Mas seu olhar quase fixo expressa uma profunda determinação, uma experiência de consciência madura.

Não se distrai mais, como na primeira vez, em olhar as flores, as borboletas, os insetos, os animais brincando. Não vê tanto o semblante inocente, superficial, divertido da natureza.

As penas e as traições despertaram nele a faculdade de aprofundar-se. Por todas as partes vê a sombria e mortífera luta deste mundo, de onde o corpo não conhece mais que suas necessidade e seus apetites.

É a luta do mais forte, é a destruição do débil. O homem derruba o bosque para aproveitar o máximo possível. "Ah, nossos descendentes o arrumarão".

Lá embaixo, o vale saturado de fumaça, de pó, se ouve como um sopro de sirenes, de apitos, todo o horrível burburinho de uma geração vendida à matéria.

Pelas noites, alguns pontos luminosos evocam para ele a multidão escrava, deixando a servidão do trabalho vão, de uma falsa civilização, para precipitar-se freneticamente aos prazeres fáceis.

O ciclo infernal de um embrutecimento a outro!

Encontra-se só e abandonado!

Esta foi uma de suas primeiras impressões. Outro de seus primitivos sentimentos é de uma liberação, de um alívio, de uma paz, de um repouso. Agora sente o despertar de algo melhor.

Primeiramente, é como se houvesse trocado de morada. Começou a familiarizar-se com seu novo meio, que lhe parece mais como uma antiga família, da qual tivesse desertado para gozar do mundo e à qual volta arrependido. Um filho pródigo! Volta a encontrar sua casa, seus pais, irmãos, aquele bosque, aquele monte, aquele rio, aqueles passarinhos.

Pela noite, tarda em dormir. A cada repouso do sol descobre, volta a descobrir novos e velhos conhecimentos..., novos e velhos amores... Só? Quanto lhe havia envelhecido a cidade! Nas primeiras noites se encontrou só e perdido, mas começa agora a compreender que era a cidade que lhe havia feito órfão.

Volta a ter contato com a terra, onde volta a começar a sentir brotar a vida, uma força imobilizante. Uma reserva de vida, onde seu sangue assegura a circulação sem interrupções, como o ar em seus pulmões. A vegetação agreste, o ardente fogo do sol derrama suas inesgotáveis forças de vida sobre a terra formigante de seres.

Seu pensamento pene tra e atravessa as camadas da terra tão espessas ou tão finas, como possam ser, para contemplar a bola de matéria em fusão.

Começa a sentir bater seu coração ao ritmo de tudo e todos.

Já está em sua casa! Agora se sente reviver na casa paterna e compreende que jamais deveria tê-la abandonado.

Para ser perdoado, ele predica aos montanheses o que aprendeu no transcurso de suas múltiplas experiências. Ensina-os a compreender sua fortuna, os diz que só eles são verdadeiramente felizes. Semeia a alegria e a esperança a profusão como os recebe. Descobre os falsos semblantes, a aparência enganosa do espelhismo sedutor da existência artificial e adulterada, onde os homens se corrompem e se contaminam em vasos fechados, sem ar puro e espaço. Incita-os a gozar plenamente da existência livre dos seres simples e bons, como os passarinho que não cessam de cantar enquanto escapam do cativeiro. Descreve os rostos cansados e tristes, dos que trocam sua independência por um ilusório conforto.

As luzes das cidades são acesas para atordoadas mariposas e desprezo dos homens sensatos.

Anteriormente se sobrecarregou com pesado equipamento: um a um, abandona hoje cada objeto ao qual se sentia tão apegado antes. Se livra até de seus roupas. Sente-se mais vigoroso e mais resistente às intempéries. A horrível gordura que lhe entorpecia foi substituída por músculos firmes e flexíveis, suas formas afinaram.

O cansaço não detém mais sua marcha como seus primeiros esforços. Deixou de preocupar-se com sua comida, aceita o que acaso lhe traz, diverte-se até com o imprevisto em todas as matérias. Dorme em uma gruta, em uma cabana, em casa confortável. Voltou a recordar antigos refrões, cantigas das mais esquecidas.

Canta à Glória da Criação, da Criatura, do Criador. As vezes, sua voz chega a tal pureza de modulação que o comove e sente correr lágrimas por sua face.

Em todas as partes por onde passa, instrui pelo prazer de fazer aproveitar a cada um da amplitude dos conhecimentos que adquiriu ao longo de suas intermináveis peregrinações, mas se sente quase envergonhado de ter que pagar assim a hospitalidade generosa que lhe oferecem. Porque seu espírito, apto para compreender e acostumado a assimilar tudo, capta e se enriquece mais do que prediga.

Nenhum tipo de conhecimento lhe é indiferente. Seu pensamento, sempre em atividade, busca e trata de compreender e instruir-se.

Na noite, quando seu corpo, seu veículo, recupera suas forças em uma completa inatividade, ele, seu espírito, prossegue talvez ainda mais intensamente sua investigação insaciável. Quer saber tudo, aspira tudo, ao absoluto.

Desta vez chegou à neve dos cumes. A simples vista, este novo mundo parece-lhe sem vida. Nada de comida, água gelada, um frio mortal. Sem dúvida, tempo há que evolucionava pelas alturas e não se encontra surpreendido. O silêncio é solene, só percebe o suave roçar de seus passos afundando na pura e branca virgindade. Detém-se um instante impressionado pela majestade e potência que reina nestas soledades. Agora, não ouve mais que o surdo zumbido da corrente, que já não pode ver, por estar seu leito profundamente entranhado na rocha, como se a montanha estivesse cortada.

Longe, uma minúscula cascata que deve ser gigantesca. No alto, ainda que pareça impossível que algum outro ser tenha chegado tão alto, um condor, que se tomaria por uma andorinha, plana pelos ares e repousa imóvel sobre as duas asas. Neves ou nuvens, que não consegue distinguir, aproximam-se e rodeiam picos sombrios e brancos cumes.

Sente-se pequeno, fraco, insignificante. Uma formiga perdida em um deserto, sem dúvida faz tempo que já vive entre as nu vens.

Não é um estrangeiro, não é um turista, nem sequer um viajante. Ele, o incessante nômade, é daqui da natureza, do isolamento, do imenso, do ilimitado. Sente-se aclimatado, adaptado, já não se deixa enganar pela aparente hostilidade dos elementos. Chegou puro ao grande templo. Pode afrontar o imenso. Despojou-se de todas as pequenices, como o carneiro deixa lã por onde passa. Assim, as penas, as aflições, os sofrimentos, as laboriosas ascensões arrancaram-lhe a impureza que antes tinha.

Ao voltar a empreender a marcha, sente-se mais seguro, animado. Não é mais um mendigo que chega ante um palácio. É um eleito tomando posse do posto que lhe cabe e ao qual foi designado. Já não se sente pequeno, já está gostando, subiu uma nova escala. Já não voltará as cordilheiras medianas, não tem nenhum desejo de começar a monótona subida e descida de montanhas. Chegou ao mais alto grau de nosso mundo.

A planície desapareceu a tempo, sob o espesso mar de nuvens. A atmosfera é de tal sutileza que parece inexistente. O frio deve ser muito forte mas não sente. Seu estômago deve estar vazio, mas não sente fome de alimento material. O céu de um azul invisível, tão sereno, tão aprazível, alimenta sua alma de um imenso desejo de absoluto, de uma volição mística de plenitude e aniquilamento, de completa liberação, de paz. Seus braços se abrem como asas.

A pura e branca neve acolhe e conserva o leve colo da crisálida de onde saiu a mariposa como um testemunho da existência de uma alma predestinada que chegou a despojar-se de seus erros e de suas ilusões.

Tudo isso foi vivido antecipadamente, foi visto sobre a imensa rota que se estende ante ele, interminavelmente. Mas, por sua própria culpa, ele não reconhece. Encontra-se, ainda, entre as garras do monstro social, inferno do qual não tem o valor de liberar-se, não querem permitir que ninguém se emancipe. Somos escravos! Mas vocês devem ser, também, demasiado envelhecidos por escalar os cumes. Esforçam-se para baixar a seu nível, a todos os que estão acima dele. Alcançam as vezes o que querem . De verdade, eles ao menos crêem.

O elefante renuncia ter progenitura no cativeiro. A lhama se deita e se deixa morrer quando o índio a maltrata. O verdadeiro homem livre suporta fleumaticamente as torturas mais terríveis e não se rebaixa nunca a pedir a vida. O albatroz toca o solo apenas que para morrer. A andorinha morre no cativeiro como a águia e todos os seres com instintos livres.

A tuberculose, o câncer, a sífilis, as guerras, tudo isto, as pessoas chamam de calamidade.

Não será que sua extensão provém do despotismo governamental e social, que pela primeira vez na história dos povos de nosso planeta pretende controlar, registrar, dirigir e submeter a suas leis e caprichos todos os seres viventes na terra.?

Hum! Uma sociedade que até pretende dominar a natureza e violar as leis cósmicas! Todas essas pretendidas calamidades e constatação feita com freqüência de que os melhores se vão, não são acaso indícios de que a terra está cada vez mais inóspita para a evolução das almas de elite?

Os abutres foram abatidos sobre o globo e dizem: "Dominamos o mundo, escravizamos ainda a natureza". No entanto, o sol continua resplandecente. O grão de areia que representa para a nossa terra um átomo entre os átomos, não mudou, a vida continua seu curso eternamente, nada mudou, as almas continuam suas evoluções. Cada um na ilusão da matéria se liberam. Logo voltam a ceder a atração inferior, circulam de uma experiência a outra, chegam, se perdem, caem na escuridão. Se encolhem e se sujeitam a corpos estreitos. Se entorpecem com desejos grosseiros. Sofrem, gemem, choram, se regeneram, expiam suas faltas, se purificam, para finalmente reintegrar-se no todo de onde pretendia separa-se.

Pois sim, nosso homem encontrou muita gente sobre seu caminho. Amigos, almas caridosas, bons conselheiros, simpatias, mas quantos semblantes falsos. Deus Meu! Quantas vezes sua alma cândida, ingênua, inocente e humilde, consciente de sua baixeza e iniqüidade.

Quantas vezes acreditou ter encontrado almas superiores, caridosas, compassivas, maternais e fraternais!

Quantas vezes olhou o mundo através de seus olhos limpos, claros, transparente!

Quantas vezes julgou seu próximo como um semelhante seu, tão honesto, tão profundo, tão comunicativo e tão generoso como ele!

Quantas vezes crê-se indigno das boas palavras que prodigavam a pessoas de aspectos superiores!

Quantas vezes confesso, se rebaixou, se humilhou, exagerando suas faltas, suas fraquezas, seus pecados!

Quantas vezes confiou completamente, levando até acusar-se de falsidades e seu ardente desejo de purificação!

Pobre alma extraviada, violento de palavra, alguns o acusavam de ódio, de violência e de maldade, porque se inquietava exteriormente contra a espantosa injustiça dos homens, gritando-lhes injúrias contra sua falsidade e sua hipocrisia. Parecia um ouriço, um osso, um elefante, algo de terrível aparência.

Os outros lhe falavam com tanta simplicidade e doce persuasão, com argumentos tão sentimentais, que seus propósitos revolucionários lhe faziam ruborizar. Eram tão doces, tão suaves, tão ternos e tão afetuosos em suas palavras. Esses magníficos gatos estavam cheios de indulgência para tudo e para todos. Ternura aparente!!!

` Quantas vezes as ovelhas caem, debaixo do cochilo dos homens, reis da criação, sob as garras de tigres, reis da floresta!

Quantas lágrimas e quantas sublevações antes de chegar a compreender que este mundo, este átomo, não é mais que uma insignificante estação sobre a rota infinita da evolução!

Quantos dilaceramento antes de compreender que todos estes micróbios bípedes não têm nenhuma importância mais que a seus próprios olhos!

Enquanto trabalhem contra o organismo no qual estão alojados, estão condenados ao aniquilamento, mas se trabalham pela edificação do edifício comum, então vivem o pelo e único sentido da vida. Para um micróbio que quer participar na vida de um organismo, a importância não está nos demais micróbios, senão no organismo mesmo que é a vida.

A terra recebe a vida do sol e não de outro planeta.

Cristãos, católicos, protestantes, adventistas, anarquistas, comunistas, naturistas, idealistas, martinistas, rosacruses, mações, de todas as cores, de todos os títulos, de todas as bandeiras, de todas as apelações, mestres, ministros, todos seja qual for, pretendem representar a verdadeira Via da Verdadeira Vida.

Mas um título, um etiqueta, um templo, uma comunidade, uma seita podem abarcar o ilimitado?

O que esperam para reunir seus esforços se são verdadeiramente sinceros? Na colmeia não existe uma hierarquia, só existe trabalho.

Finalmente, conseguiu compreender que sobre esta terra não tem lugar para sentimentos puros, íntegros, precisamente espirituais, algo da terra se mistura sempre neles, por isso renunciou aos compromissos e aos amores deste mundo.

Mas isso não foi fácil em sua aguda sensibilidade, seu coração expansivo e afetuoso, sua alma emotiva gerava amigos e amigas, tinha a esperança de encontrar uma jovem de gostos nômades, sã, fresca e simples, que fosse sua companheira eterna de viagem. Outra metade de sua alma cuja união lhe completaria, lhe equilibraria, lhe integraria a planos superiores, lhe restituiria sua integridade inicial. E compreendo que é isso que ele necessita: encontrar sua outra metade.

Sobre esta terra não há mais que médio seres, que antes de serem crucificados estavam inteiros e que não podem pretender liberar-se desse mundo de sofrimentos até depois de haver reconstruído sua antiga integridade.

O corpo é a prova visível de nosso erro, de nossa ignorância e extravio. Se há sofrimento é que há desequilíbrio, erro, ilusão.

O corpo é sofrimento, porque nosso ser real não é compatível com ele. Enquanto nos amamos as sensações, somos prisioneiros de uma vida carnal. O corpo é a prova de nossos erros, é o castigo de nossas faltas. Se temos prazeres e alegrias com ele, se vivemos para ele, se os sentidos nos subjugam, então, quando esse corpo desaparece, ficaremos ainda ligados a esse mundo de apetites, de lutas, de rivalidades, de lágrimas, de sangue e de morte.

Lado B


Torno-lhe a repetir, Adão não precisava de seu corpo físico. Da Luz astral precisava para o cumprimento da sua missão, porque este corpo corresponde à região cósmica onde se elaboram todas as formas, onde se efetuam todas as transformações essenciais dos indivíduos terrestres. Onde reina as forças de direção, encarregadas de separar o bem do mal, o ser do não ser e tudo que nega o ser.


Meditações

O sofrimento é devido ao apego, de ilusões que se concede a esse mundo de aparências. A felicidade se encontra mais além das misérias desse mundo. Então, nenhuma amargura. Os homens têm poder em relação ao apego das coisas da terra, mas são impotentes ante a serenidade interior. O espírito Luz não pode de nenhum modo deixar-se devorar pela escuridão.

Deus, esse Deus dos vivos, que mora no que é mortal. Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. Pereça esse corpo mortal e todos seus vãos apegos, às coisas perecíveis e transitórias. Pereçam as ilusões que nos fazem tomar a sério o mundo do espelhismos. Pereçam nossos desejos insensatos e perpetuamente mutantes. Pereçam nossa sede de viver na carne e nesse mundo de dor. Decepções contínuas, enquanto nos apoiamos no mundo exterior. Novos desgastes, enquanto nos deixamos cair na armadilha deste cinema quando afeta a imagem sedutora.

Bendita seja a dor que nos desperta deste sonho. Bendita sejam as provas que nos tiram deste mundo de sonhos. Bendito sejam os pesadelos que nos despertam à verdadeira Vida Eterna, à Vida do Espírito.

Meu corpo se subleva sob o julgo, mas não importa. Queira ou não queira deve submeter-se. É demasiado ignorante e demasiado profissional para pretender ser escutado por mim. Que morra antes que consiga desbocar-se e arrisque a preciosa existência do ginete. Que se destrua o veículo, antes de por a vida inteligente em perigo. Nunca cabe pensar em sacrificar o eterno pelo transitório.

A dieta acelera o espírito, o corpo se afina e se faz receptivo às radiações sutis...deixa-se conduzir docilmente. Volta a por-se em seu verdadeiro posto, volta a seu verdadeiro papel de fiel e obediente servidor da alma.

Todas suas forças se consagram unicamente ao progresso do que lhe habita e lhe anima. Não se atreve mais a manifestar sua cega e instintiva vontade de animal impulsivo, sensual e instável. Tem consciência de sua indignidade e se sente cheio de humilhação ante a nobreza do espírito que descendeu até a mesquinha pequenez. Livrado da ilusão da identificação, o ginete volta a encontrar a alegria da liberdade, da independência, da força livre e cheia de consciência.

Então os mequetrefes e os “perrilhos” que ladram a seu passo não lhe fazem voltar mais a cabeça, nem os outros cavalos lhe interessam mais. As vezes os outros ginetes passam sem que ele os olhe. Nenhum orgulho, nenhuma afetação. Seu olhar está fascinado pelo esplendor tão profundo do céu que domina. Sorri tão profundamente, que nem sequer sente sua nervosa cavalgadura, afinada pela dura disciplina a que lhe foi submetido.

Que importa uma mãe, uma esposa, uns amigos, uma pátria, uma casa, uma segurança material qualquer!

Mesmo a saúde não se encontra varrida como uma folha quando chega sua hora?

Por que dá importância a todas as aspas deste mundo? Confiança no toda e na pétala, a partícula, o átomo e elétron mesmo não poderão ser perturbados na essência Eterna.

O mundo decrépito se desmorona. O que se apega à matéria se reduz a poeira com ela. Uma civilização de ferro velho, de dinheiro, de finanças, de interesses pessoais, de ambições egoístas, de dominação de violência. Não é mais que um teatro, uma caricatura, uma desordem dissolvente.

Quando a astúcia e a intriga triunfam sobre as virtudes, a consciência, a generosidade, então o espírito fastiado abandona o corpo a sua decadência e volta ao limo informe e fecundo para novas experiências.

Uma civilização de gozo e ouro atola e se apaga. Que importa!!! A Luz Eterna do Espírito não se encontra por isso diminuída nem sequer atenuada. Ela é tudo, o absoluto, o ilimitado.

Ela vem por um tempo ao vegetal, ao animal, ao homem e aos seres que crescem na experiência e perdem sucessivamente as formas, cumprindo o seu ciclo de crescimento e de diminuição.

A primavera, o outono, o fluxo e o refluxo. A noite e o dia. A Lua crescente e minguante. Verão enterrado e ressuscitado. Folhas secas e brotos nascentes, inundações e vulcões. A serpente de pedra gritava a soltar-se e sente-se renovada como a árvore em seu novo corte. Depois de haver-se recolhido em seu casulo, a lagarta inválida se metamorfoseou em uma esplêndida borboleta ébria de Sol.

Morte da forma substância. Nascimento do espírito essência. Nascimento!!!

O círculo tem um começo e um fim?

Morte!!!

O Sol nasceu esta manhã?

Morreu a noite?

Haverá o eterno, o vivo por ele mesmo?

Eu Sou O Que sou, Deus.

Os Deuses, o começo e o fim, Alfa e Ómega. A força que cria e a força que destrói. A potência que protege e a que castiga. O infinitamente pequeno e o todo invisível. Três pessoas em um só Deus.

Permita que os insensatos matem-se entre eles. Prejudicarem-se, destruírem-se, que se sujem de sangue e de dejetos. Deixa as bestas com as bestas. Deixa que os mortos enterrem seus mortos. Deixa a sombra com as sombras. Deixa o louco correr a sua perdição. Deixa o orgulhoso proclamar sua força. Deixa o avaro esconder seu tesouro. Deixa o violento golpear suas âncoras. Nenhum escapará à colheita que semearam.

O trabalhador é digno de seu salário.

O que são uns anos de tua miserável existência na eternidade do tempo?

O que lhe importa a injustiça aparente e provisória de alguns anos?

O que lhe importa ser roubado, golpeado, estar com fome, tremendo de frio, sem refúgio, sem cama, sem carinho?

O que lhe importa que o fruto de suas penas, de suas privações, de seus sacrifícios, de seu trabalho lhe seja arrebatado em nome da lei? Em nome da justiça dos homens!!!

O que lhe importa se você é traído por seus semelhantes?

O que lhe importa ser depreciado, traído e abandonado?

O que lhe importa se lhe tiram sua túnica? Dá-lhes também seu abrigo e pede a Deus que se apiede da imbecilidade e perdoe o crime dos insensatos. À vista do mundo foi construída uma reputação, uma fachada de sabedoria e respeitabilidade. São perdoáveis por levarem-se eles mesmos a sério. Como vai conhecer um estúpido sua imbecilidade, se deixa o seu orgulho e ambição reinar neste mundo?

Já tem sua recompensa. Que se cobrem comodamente e despojem o inocente. Sentem-se fortes em manadas, como os lobos, e se embriagam com seus próprios alaridos, seus copiosos banquetes, seu conforto, sua segurança social repleta de garantias, de contratos, de documentos legalizados, solidamente sustentados por apoios, por aprovações, por consagrações administrativas, conforme às regras de bons costumes da gente de bem, enriquecida e respeitavelmente classificada em uma sociedade solidamente sedimentada.

Toda essa força hierárquica não os considera como os melhores representantes de uma civilização bem ordenada?

Se existem corações ou sentimentos particulares, ou indivíduos débeis fora de casta que se encontrem rechaçados ou esmagados, não é culpa deles. É a sociedade que é constituída assim!

Glória aos fortes, aos poderosos, aos vencedores, aos que sabem habilmente unir-se para dominar, para aumentar seus bens.

Ai dos tolos solitários, que confiam na justiça de suas consciências.

Ai dos que não se inclinam ante a justiça dos homens.

Desprezados, desterrados, expulsos, reprimidos... Jesus Cristo foi também um deles. Ele não se submeteu às leis dos homens. Seu exemplo sublime ultrapassa a sabedoria humana.

Tolerar tudo dos homens para merecer tudo de Deus. E não é um engano?

O engano é o pacto que a gente boa aceita.

Eu quis trabalhar arduamente no nosso mundo de comerciantes. Quis ganhar dinheiro, economizar, privar-me da alegrias mais elementares e mais legítimas. Jamais um afeto, nem um lar, nem relaxamento, nem distrações, nem boa comida, nem boa bebida, nem amigos, nem segurança, vida errante contínua, trabalhos servis e as piores retribuições e as vezes até não retribuído.

Desejo de instruir-me, de educar-me, buscas incansáveis, meditações persistentes para penetrar no mistério do sofrimento, da dor, das penas e do isolamento.

O que pode ter um patrão desse indigente?

Depois da armadilha mercantilista das fronteiras, a polícia ativa contra o errante. A lei agitando a espada contra o esfarrapado que treme de frio e febre. “Veio para caçar leões?”, disse humoristicamente um respeitável comissário da polícia que sacrificara todos seus bens para tentar viver independente, só numa terra pantanosa, vendida demasiado cara por um hábil grupo de negociantes que designaram a uma terra não cultiváveis o sedutor título de lotes. Roubo hábil do estado contra o qual o infeliz não é mais que um carneiro, para produzir lã e para derramar seu sangue quando o interesse dos industriais declara que a pátria está sobre perigo. Estava sancionada por leis decretadas pelos detentores do poder.

Os mais fortes e os mais hábeis se impõem ao governo e presidem à constituição das leis, evidentemente eleitos para consolidar seus privilégios.

O direito do mais forte é a base essencial da sociedade, mas os corações puros assim como os passarinhos, as cigarras, os grilos e as borboletas cantam eternamente a Glória da vida, dos céus e do Criador.

A ambição e os crimes dos homens passam, seus corpos desaparecem e ninguém se lembra deles, nem os pássaros, nem o Céu. Mas o Sol brilhará eternamente.

O campo eterno vibra regularmente no infinito. O dia sucede à noite, o verão ao inverno, o nascimento à morte.

O homem diz: “Eu sou o Amo”. Mas se lamenta quando lhe falta manteiga no pão, pimenta no molho, sabão para lavar-se. Quando se ver obrigado a sacrificar uma hora de descanso. Não contente de suas necessidades, se subjuga voluntariamente a vícios, que o degradam abaixo do animal, e cantam vitória entre o soluço e a bebedeira. Para ser considerado pelos poderosos é capaz de trais seu melhor amigo, sua companheira, seu irmão e sua mãe.

Sua segurança material parece-lhe digna de todas as traições, de todas as covardias.

Bem enfeitado, bem apertado em estreitas roupas, dispostos a tudo para obter uma distinção, uma gratificação, um título de superioridade, se preocupa até a tortura de disfarçar sua baixa animalidade sob uma ostentosa distinção, se adorna como cortesão. Pinta o rosto como doente lívido.

O mundo chegou a ser um foco de hipocrisia, de duplicidade, eterno ciclo de ação e reação, de valor e de covardia. Uma nação inteira prostituindo-se com um acolhedor sorriso de cortesã. Complacência mostrada ao ar livre. Depois, a ambição egoísta dos indivíduos, precipitando-se na cabeça dos partidos ou afundando novos para ter neles um papel preponderante. Proteções, cumplicidades, publicidade para as consciências complacentes.

Sórdidas conspirações para governar, manobrar, atuar sobre as finanças, a indústria, o comércio, as multidões. Especulando sobre avidez, o ódio, a inveja. Imprimindo falsas divisas. Reagindo e requerendo aqui para voltar e vender mais longe a preços quintuplicados. Decretando penúria e armazenamento tão meticuloso, que os amontoados de mercadoria se deterioram e se perdem. Eriçando as fronteiras com redes finas e apertadas e parecendo ignorar as transgressões previstas de selos oficiais e governamentais que encobrem a grande indústria, os bancos e a alta finança.

Funcionários pequenos, miseráveis servis, mesquinhos, famintos como peões, ignaros e altos funcionários, amos absolutos, árbitros temíveis que controlam o alto tráfico. Homens bem protegidos, invulneráveis.

Grande publicidade de depuração, agradando os fraudulentos e outros minúsculos. Espetaculares chamadas ao sacrifício, ao trabalho, à abnegação e ao patriotismo, mas cada um saciando-se em todos os prazeres. Grandes traições encobertas com a armadura da virtude e da incorruptibilidade.

Os fortes, os poderosos, os que proclamam sua honra e sua abnegação, quase seu puritanismo, em nome de uma lei toda poderosa e sem recurso, acabam de despojar as ruínas e os farrapos que se aderem às débeis garras dos pequenos e dos obscuros.

O rebanho pretende conservar ainda um pouco de lã, mas afortunadamente a lei é forte e bem servida, não se deixa abrandar.

Ademais a culpa é da época que atravessamos e não de nossos abnegados representantes no poder. Depois de uma guerra tão terrível, poderia ser pior.

Os comunistas dizem: “Não queremos Deus em nossas escolas”. Os católicos dizem: “Os comunistas são uns demônios e uns assassinos”. Curiosa época, verdadeiramente!

Karl Marx não glorificou a esplêndida dignidade humana, sua fraternidade, sua união, sua elevação, não prescreveu a riqueza pessoal, a exploração dos humildes e dos fracos, não predicou o sacrifício, a ajuda mútua por exemplo? Não venerou a unidade fraternal de todos os homens fora de todo privilégio, de todo despotismo, de toda crueldade, de toda injustiça, de toda casta?

Jesus Cristo não havia dito: “Bem aventurado os humildes e os oprimidos, aqueles que se crêem maior entre vós, serve a seus semelhantes.” “É mais fácil que um camelo passe pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no céu”. “Não há que levar mais que uma só túnica, não se preocupe pelo amanhã.”

Então, por que discípulos de Marx suprimem Deus?

Porque os admiradores de Jesus se matam entre si por questões políticas deste mundo?

Cristo disse: “Sois todos irmãos”.

Em último recurso o ser humano se aproxima sem empedimento a Deus, mas estão lhe faz falta cerimônias pomposas, uma religião grandiosa, pedrarias, riqueza, grande apresentação.

Os lobos e os zorros têm guaridas, mas o Filho do Homem não tem onde repousar sua cabeça. Já chega! Não o ouvi! Dizem “Não”. Hipócritas e covardes que vocês são! O orgulho unicamente os fazem viver. Predicam virtudes, praticando o vício; a verdade, enganando; praticam doçura, violentando; a bondade, assassinando. Víboras. Assassinos. Seus alaridos não enganam ninguém. Nem sequer a si mesmos.

Mas não se preocupem, a grande apuração já se aproxima, sua própria desordem vai purificá-los e triturar a sua vaidade, gritarão uma vez mais: Injustiça! Mas ouvirão o eco de si mesmo: Justiça! Enquanto mais gritem, mais ouvirão!

Karl Marx, discípulo de Jesus, foi um reformador, ou seja um regenerador como todos os profetas.

Krishna veio para restituir a sua pureza inicial, a Divina Doutrina Védica.

Buda veio, por sua vez, uma vez mais quando iam matar o Espírito da Lei.

Jesus veio também não para abolir a Lei, senão para cumpri-la.

Moisés trouxe já Lei da Justiça.

Rama Krishna, Bidekananga, Gandhi, Maha Majachi, Majarichi.

Em cada momento grave de queda, de escuridão, de esquecimento, nasce um salvador, um messias, um ungido, um mensageiro à medida do povo decadente.

Cada país como cada época tem seu salvador encarnado, à sua medida, ao seu temperamento, aos seus costumes, às suas limitações, à sua compreensão.

Simples, puro, claro, natural, desapegado, livre, cheio de compaixão. Ele insufla a vida Eterna, traz a força de cima. É o transmutador do sublime, humaniza o divino e diviniza o homem.

Os homens criam capelas, seitas, partidos, ostracismo, pátria, fanatismo, barreiras, fronteiras.

Ele, o Filho do Homem, anuncia “Sois todos Irmãos. A vida é Una. Ama-os uns aos outros, não declare impura nenhuma das coisas criadas por Deus”.

Ainda o julgamento dos homens perversos é pesado de levar. O pensador e o homem de coração se afligem ao ver a miséria do homem que oprime a seus semelhantes. Miséria e dor é a existência, sofrimento e dor são inseparáveis do mundo das sensações.

Temos pois que extirpar o desejo! Descartá-lo, aniquilá-lo, não deixar-lhe mais lugar, permanecer imperturbável e sereno, através das tormentas das paixões, das solicitudes, das tentações do mundo. Tranqüilo, desapegado em meio do redemoinho. Há que transmutá-lo. Há que ser silencioso, solitário, puro, imitável como um lago na montanha.

Censura, elogio, amor, ódio, prazer, angústia, tumultuo, abandono, fome, miséria, prisão, doença, devem ser considerados como os furacões, o granizo e a neve precipitando-se sobre as rocas sem outros resultados, que o polir os ângulos e o de arredondar os contornos. Estes são exercícios de persecução: afinarmos e polirmos.

Os países das máquinas, da finança, da indústria, dos prazeres ruidosos e da violência, estão considerados como inesgotáveis mananciais de amargura, de crimes, de lágrimas e sangue.

Então, abandone definitivamente seus preconceitos e seus costumes. Afaste para sempre os olhos e o pensamento de suas pérfidas seduções, de suas hábeis mentiras e das falsas grandezas.

Pátria, moral, religião, leis, ética, direitos, deveres. Cortar e separ-se. Buscar o ensinamento e a companhia dos verdadeiros sábios, os que são refratários às debilidades das multidões. Os que se bastam com algumas frutas, com farrapos e um sleep. Os que se lavam em um rio, que socorrem os desgraçados e que não despertam nenhuma cobiça aos invejosos. Aos que permanecem serenos ante às maiores seduções da carne, da fortuna, que saibam calar e viver solitários, que amam todos os seres sem distinção de raça, credo ou classe. Que considerem toda criação como um magnífico jardim de variadas flores que contribuem por si só à harmoniosa beleza do conjunto.

A sabedoria está naqueles que têm a sorte de amar e gozar plenamente. De não ter desejo de cobiça, sujeições, nem ódio, inveja, nem arrependimento do passado, nem vãs esperanças do futuro. Os que se deleitam na contemplação das maravilhas da criação, fora das hordas sacrílegas dos homens.

Os homens derrotam suas forças para fazer um lugar na sombra, defende seus bens, se preocupa por uma família, por uma situação, pelo futuro dos filhos e depois tudo acaba seis pés debaixo da terra. No momento de deixar tudo, dá-se conta que nada foi realmente dele, e que não foi possível gozar nada, devido ao pensamentos envenenado pelas rivalidade, invejas dos outros e as inquietudes contínuas.

Enquanto busquemos a felicidade neste mundo, onde tudo é transitório, fugitivo, passageiro, iremos de decepção em decepção, e persistirmos apesar de tudo em desejar o estável no domínio do instável. Enquanto você creia haver chegado à paz ou à alegria, nos veremos frustrados inexoravelmente do fruto de nossos penosos esforços.

Chega a velhice e a hora da morte, então, nos damos conta de que nossa vã existência de agitação e de pesares não foram mais que um engano. Temos percorrido atrás de vãos espelhismos que não existiam mais que em nossa própria mente ou em nossa própria imaginação.

Nosso pensamento nos lançou em um mundo artificial, inexistente no que com essa presunção temos acreditado ter um papel preponderante com plenitude e serenidade.